Saúde, Ambiente e Trabalho: conexões que atravessam o cotidiano e desafiam as políticas públicas
DOI:
https://doi.org/10.33637/2595-847x.2025-280Palavras-chave:
editorialResumo
A edição número 14 da Revista Laborare reúne reflexões e investigações que dialogam com uma das articulações mais desafiadoras do nosso tempo: a relação entre saúde, ambiente e trabalho. Trata-se de um campo de tensões e disputas, mas também de criação de sentidos, onde os sujeitos e os territórios ocupam lugar central. Ao reunir estudos que abordam diferentes dimensões dessas conexões, esta edição reafirma o compromisso do periódico com a construção de um conhecimento comprometido com a dignidade humana, a justiça social e a valorização do trabalho.
O dossiê se inicia com o artigo “Determinantes do uso da bag ou do baú por motoboys em delivery de refeições para empresas-plataforma: uma questão de saúde no trabalho”, de Leo Vinicius Maia Liberato, Ana Rubia Wolf Gomes, Juliana Andrade Oliveira e Laura Soares Martins Nogueira, pesquisadores da Fundacentro. A pesquisa revela como decisões aparentemente individuais sobre o equipamento utilizado (bag ou baú) são atravessadas por condicionantes econômicos, organizacionais e simbólicos que afetam diretamente a saúde e a segurança desses trabalhadores urbanos precarizados. A abordagem metodológica, que combina análise de vídeos e aplicação de questionários em quatro capitais brasileiras, confere força empírica a um tema de crescente relevância social.
Em seguida, o artigo “Trabalho e sofrimento: impactos da lógica neoliberal sobre os trabalhadores do setor financeiro”, de Ana Tercia Sanches, Sidney Jard da Silva e Eliane Freitas, analisa o sofrimento psíquico de trabalhadores bancários submetidos a modelos de gestão inspirados na racionalidade neoliberal. O estudo de caso, baseado em entrevistas com empregados de um banco público, revela como estratégias contemporâneas de controle e cobrança por desempenho mantêm traços tayloristas e, ao mesmo tempo, invadem a esfera subjetiva do trabalhador, gerando frustração, insegurança e adoecimento.
O terceiro artigo, “Nuances da ergonomia na indústria de base florestal no Brasil”, de Journei Pereira dos Santos, engenheiro de segurança e mestre em Ciências Agrárias, apresenta uma revisão integrativa sobre a aplicação da ergonomia em um setor estratégico para a economia brasileira, mas ainda carente de estudos aprofundados. O levantamento bibliográfico cobre a produção acadêmica da última década e identifica lacunas importantes — especialmente no que se refere às atividades extrativistas, ao beneficiamento da madeira e à indústria de papel e celulose —, além de revelar a concentração regional das pesquisas no eixo Sul-Sudeste.
Encerrando o dossiê, o artigo “O estatuto do erro no discurso teórico da Inspeção Federal do Trabalho”, de Luiz Gustavo Magalhães Costa Meneses, auditor-fiscal do trabalho, propõe uma análise densa e rigorosa do modo como o erro humano é tratado nas práticas institucionais de investigação de acidentes. Ao sistematizar 17 proposições presentes em publicações da Secretaria de Inspeção do Trabalho, o autor oferece um roteiro argumentativo que fortalece a abordagem científica e crítica dos eventos adversos no trabalho, questionando modelos hegemônicos e contribuindo para práticas de análise mais integradas e fundamentadas.
Com esta edição, a Laborare reafirma seu papel como espaço de circulação de ideias que não se limitam à denúncia, mas que também propõem caminhos. Saúde, ambiente e trabalho não são esferas isoladas: interagem, se tensionam e se transformam mutuamente — e é nessa articulação que reside o desafio (e a esperança) de uma sociedade mais justa, solidária e segura para quem trabalha.
Esta edição contou com a colaboração do Programa de Pós-Graduação em Saúde, Ambiente e Trabalho (PPGSAT), por meio de sua coordenação, e do Departamento de Medicina Preventiva e Social, ambos da Faculdade de Medicina da Bahia.
A revista Laborare tem consciência do grande desafio que é manter-se como publicação semestral regular, mas seguimos convictos de que se trata de um espaço de diálogo e reflexão necessário e indispensável em um mundo tão distópico.
Em 2018, quando publicamos a primeira edição, destacamos as “grandes dificuldades num momento em que os direitos trabalhistas são violados e quase todos os dias novas iniciativas são tomadas para espoliar as riquezas nacionais, promover a degradação do ambiente, da saúde, da seguridade social etc.”. Depois disso, conhecemos e vencemos as trevas do bolsonarismo, mas é forçoso reconhecer que ainda não conquistamos um tempo em que os direitos trabalhistas estejam devidamente assegurados, e a vida e a saúde do trabalhador protegidas de modo adequado.
Não apenas a Inspeção do Trabalho tem sido mantida acuada, como todo o ordenamento jurídico trabalhista continua a ser desconstruído. Nesse contexto, a Laborare seguirá em frente como iniciativa prioritária do Instituto Trabalho Digno, pois entendemos que é fundamental manter vivo e forte esse instrumento de diálogo científico sobre o mundo do trabalho em transformação e sofrimento.
Concluída a gestão do atual editor-geral, Emerson Victor Hugo Costa de Sá, a nossa revista convidou o professor Paulo Antônio Barros Oliveira para assumir a sua liderança, ao lado da professora e juíza do trabalho Valdete Souto Severo, ambos no Rio Grande do Sul. Paulo Antônio é médico, doutor em Engenharia de Produção, auditor-fiscal do trabalho aposentado e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Desejamos êxito à nova editoria e longa vida à Laborare.
Boa leitura!
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